Por: Abel Sidney de Souza

O hábito das conversações sadias, o exercício da meditação, as leituras edificantes e as preces ungidas de ardente fé, passaram a atrair os Espíritos visitadores que, informados dos esforços que os irmãos envidavam por adquirirem uma situação superior de vida, ali permaneciam em tertúlias ou repousos dos seus muitos quefazeres, saneando, com as suas irradiações mentais, a psicosfera ambiente.

Que espíritos nos têm visitado o lar? E em que circunstâncias eles nos visitam? Com que propósito, enfim, eles o fazem?

Em O Livro dos Espíritos, nas questões que tratam da influência dos espíritos em nossa vida, Kardec recebe como resposta à questão 459: “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?” o disposto abaixo:

Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Uma leitura atenta das questões que tratam do livre-arbítrio em O Livro dos Espíritos e em outras obras, básicas e complementares, nos afasta de qualquer ideia de que a influência dos espíritos seja um atentado à nossa livre vontade.

O fato é que os espíritos, convivendo conosco de algum modo, partilhando de nossos sentimentos e pensamentos, ideais e inclinações, têm um certo poder de influência sobre nós. Trata-se, possivelmente, em última instância, das afinidades que nós mesmos elegemos e atraímos…

A convivência nossa com os espíritos, seja apenas durante alguns instantes das nossas atividades diárias, transcende as limitações de espaço. Isto é, os espíritos não precisam estar ao nosso lado para partilharem de nossas vivências. O pensamento – mais que a proximidade espacial – é o fator mais importante deste intercâmbio (entendendo-se aqui pensamento como um conjunto de estados da alma, incluindo-se os sentimentos, emoções, ideais, aspirações, etc.)

O problema é justamente sabermos definir que espíritos temos atraído para a esfera da nossa intimidade, propriamente no ambiente doméstico (já que carregamos conosco uma psicosfera própria onde quer que estejamos, nos tantos ambientes que frequentamos).

As atrações ocorrem segundo as leis da afinidade. Para analisarmos as nossas afinidades eletivas, aquelas que elegemos, conscientemente ou não, para a nossa convivência, é necessário, pois, primeiramente identificarmos:

1) como temos agido em nossas tantas ações cotidianas;

2) que interesses nos têm tomado a atenção;

3) qual tem sido o padrão de nossas conversas;

4) que sentimentos e emoções se fazem mais presente em nossas atitudes e ações;

5) que rumo tem tomado os nossos pensamentos quando estamos a meditar, a pensar na vida…

Esta é a análise de natureza estritamente pessoal. A outra análise é a familiar. Como temos agido no círculo familiar mais estreito, junto dos nossos?

Temos cultivado em conjunto o “hábito das conversações sadias”? Temos reservado espaços para o “o exercício da meditação” para “as leituras edificantes” e principalmente para “as preces ungidas de ardente fé”, conforme os sábios conselhos de Victor Hugo?

Não basta, é certo, o cumprimento de determinados deveres que nos impomos, como a prática do Evangelho no Lar. É preciso ir além. Para atrairmos os “Espíritos visitadores”, conforme apontado em Árdua Ascensão, precisamos demonstrar que estamos a buscar viver “uma situação superior de vida”. E eles avaliam nossos esforços de aquisição destas conquistas…

Atrair e reter boas companhias espirituais no lar é, então, tarefa que nos exige uma constante vivência dos postulados espíritas que abraçamos, dentro das nossas possibilidades relativas.

O Evangelho no Lar, para retomarmos o raciocínio, deve ser cultivado todas as horas. Isto inclui tudo o que foi sugerido linhas acima por Victor Hugo e uma atitude de permanente vigilância e oração para conseguirmos manter uma boa atmosfera espiritual em nossos lares.

A título de ilustração, conhecemos um companheiro espírita digno de imitação. Visitamos o seu lar durante uma viagem que fizemos à sua cidade e nos surpreendemos com os bons hábitos cotidianos de sua família. A princípio, é preciso confessar, estranhamos um pouco o fato deles fazerem tanta prece, em alguns momentos do dia. Depois de um dia de convivência, no entanto, percebemos que estas práticas iam além de qualquer ritual ou rotina forçada. Eles estavam tão impregnados pelo bom costume adotado, vivenciados como atos muito espontâneos, que percebia-se não haver qualquer indício de pieguismo, beatismo ou qualquer distúrbio emocional em suas atitudes.

Devo acrescentar que o casal disciplinadamente conduzia a leitura de uma obra espírita no cair da tarde, em pouco menos que dez minutos. Brevíssima leitura, comentário e prece. Muitos livros eles já tinham lido juntos. Algumas obras eles demoravam um ano ou até mais para completarem a leitura. Temos tentado imitá-los, dentro das nossas limitações…

Preservar o nosso lar, selecionando as visitas que desejamos receber, é hoje medida de proteção. E esta seleção, sabe-se, é feita naturalmente, de acordo com o ambiente que conseguimos criar à nossa volta.

Aceitemos o desafio de criar os nossos oásis de paz e reconforto para abrigarmos a todos os que nos procuram, de acordo com a nossa capacidade de recepção e auxílio. O número dos que buscam – encarnados e desencarnados – os lares dos verdadeiros servidores do Bem (independente de qualquer matiz religioso) não é pouco. Proteção espiritual, neste caso, nunca há de nos faltar.

E que mereçamos acolher os Espíritos amigos em missão pelo planeta, oferecendo-lhes o pouso do nosso próprio coração!

Abel Sidney de Souza

Bibliografia:
FRANCO, Divaldo Pereira. Árdua Ascensão (pelo espírito Victor Hugo). 1ª ed. Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 1985.


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