Fonte: Centro Espírita Amigos do Bem - Por: Marcelo Henrique

“E o que fizeres a um destes pequeninos, é a mim que o fazeis”, Yeshua.

Foi pelas redes sociais, mais especificamente pelo Instagram, que conheci a história que passo a relatar.

Na periferia da maior metrópole brasileira e uma das maiores cidades do mundo, São Paulo (SP), vivia um idoso de 78 anos em condição de extrema indigência e necessidade. Morava em uma casa que, por problemas na fiação, não possuía, sequer, luz elétrica. Tampouco água quente, sobretudo para os banhos em dias mais frios. Seu banheiro não possuía chuveiro e ele tomava banho numa espécie de tanque de lavar roupas. Praticamente não havia móveis na residência, razão pela qual ele dormia em um velho e precário sofá. As paredes continham rachaduras, o reboco solto e havia pisos e azulejos soltos.

O homem, “seo” Roberto, filho único, nunca casou e nem teve filhos. Vive, pois, sozinho e depende da caridade alheia. Em tempos rudes como o que vivemos, quem se importa com a dor e as dificuldades do semelhante, ainda mais considerado um “estranho”? Eis a realidade que alcança muitas pessoas, na atualidade, levando muitos a sucumbir diante da ausência do mínimo razoável para uma vida digna.

Lembramos, aqui, da passagem de “O evangelho segundo o Espiritismo” (OESE), capítulo XIV, itens 3 e 4, que trata da Piedade Filial (“Honrai a vosso pai e a vossa mãe”). Nas preclaras orientações dos Espíritos Superiores, mas, também e principalmente, no valoroso texto da lavra de Allan Kardec, tem-se a tradução espírita de um dos mandamentos da religião judaica, incorporados ao Cristianismo. Devemos considerar, inclusive, o que o próprio Yeshua teria declarado, aos discípulos e seguidores repetidas vezes: “Não vim destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento”, representando o que consta da própria Introdução do livro em comento (OESE), em que se apresenta uma correlação histórico-ideológica entre as doutrinas de Sócrates e Platão, as atribuídas ao Homem de Nazaré e aos preceitos da Doutrina dos Espíritos. Este mandamento, assim, encontra-se em perfeita consonância com as Leis Morais, expressas na terceira parte do livro inicial do Espiritismo, “O livro dos espíritos” (OLE).

Já que mencionamos este último (OLE), Kardec fez uma oportuna indagação aos Amigos Invisíveis acerca do (necessário) repouso na velhice (humano-material), questionando, deles, se seria um direito este repousar. Ao que eles pontualmente responderam: “Sim, pois não está obrigado a nada, senão na proporção de suas forças”. Não satisfeito, o Professor francês reitera: “o que fará o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?”. Ao que os Instrutores sentenciaram: “O forte deve trabalhar para o fraco; na falta de família, a sociedade deve ampará-lo: é a lei da caridade”.

Implícitos, aí, para TODOS os homens de TODOS os tempos, os deveres de fraternidade, solidariedade e caridade. Não como princípios meramente religiosos. Tampouco como a “salvação” para os indivíduos que buscam um “lugar melhor” após esta existência. Nem como algo que precise de “holofotes”, para ser estampado (apenas e tão-somente) como elemento de valorização pessoal nas redes sociais. Para esta exposição que não tem outro objetivo senão o ato de ser “reconhecido” socialmente, recordemos de outra fala do Rabi: “Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”.

Retornando à história do início deste ensaio, “seo” Roberto deixou de ser um invisível e tocou o coração dos vizinhos que, de longe, observavam a precariedade e a solidão daquele viver. E resolveram se organizar, primeiro localmente, na vizinhança mesmo, para a arrecadação de recursos para buscar fornecer ao ancião um mínimo de dignidade existencial e o oportuno acolhimento nestes dias “finais” de trajetória por este mundo. Depois, foram além. Idealizaram, pela internet, uma “vaquinha virtual” (na plataforma VOAA), que possibilitou não só a reforma da casa, a troca do mobiliário existente, a compra de outros móveis e eletrodomésticos, o conserto da fiação, a construção de um pequeno (mas adequado, inclusive com os itens de segurança para o idoso) banheiro com um chuveiro de água quente.

Foram além, e conseguiram disponibilizar uma cuidadora durante o dia para o velho amigo e rancho semanal de víveres e mantimentos. Além disso, as vizinhas se revezam para, todos os dias, levarem a “quentinha”, no almoço e no jantar, aproveitando para conversar com o ancião e ouvir-lhe as histórias de vida.

Vale dizer que o medo do Coronavírus tinha tornado o “seo” Roberto ainda mais arredio e isolado. Tanto que para ele abrir a porta, nas primeiras vezes, foi a muito custo e com os itens de higiene e segurança epidemiológica recomendados pelas organizações de saúde. Mas ele se convenceu que “almas boas” ali estavam para lhe amparar e assistir.

A velha casa, agora, é um local bem aconchegante. Não só pelos itens materiais, mas, principalmente, pelo calor humano que voltou a habitar naquele lugar. A alegria de viver estes últimos meses e anos de trajetória física possibilitou o retorno de um certo brilho no olhar daquele homem.

Estes exemplos arrastam os corações e mentes daqueles que passam por este mundo compreendendo perfeitamente a transitoriedade da existência física e a razão de estarmos aqui encarnados. Se não havia os laços da consanguinidade e da afeição, característica principal das famílias e grupos sociais a que nos afiliamos, presente estava a noção de irmandade espiritual entre todos os Espíritos (homens) e o dever de amparo que a solidariedade e a fraternidade, materializadas na caridade (material e moral) possibilita aos “estranhos” do nosso derredor.

Aquele grupo de jovens e maduros, talvez não tão calejados pela vida íngreme do “seo” Roberto, percebeu que com o pouco que fizessem estariam ofertando o muito que ele precisava.

Quantos Robertos existem por aí? Quantos deles estão mais próximos do que imaginamos? Se você não tem recursos disponíveis, tem o tempo a destinar, algumas horas por mês, para alguma ação de amparo e assistência. Se não tem tempo, mas possui alguns recursos, pode observar quantas entidades sérias, no seu bairro ou cidade, se destinam – sem precisar de campanhas de arrecadação – a mitigar as dores alheias. Quem sabe você também não se vincule a alguma dessas iniciativas? Nos momentos mais difíceis, para você, lembre-se que há muitos outros que estão em maior dificuldade.

Deixe-se, então, arrastar pelo exemplo...


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