Fonte: Correio Espírita - Por: Cláudio Conti

Vivemos em um mundo, segundo apresentação didática, na categoria de expiação e provas [1]. Contudo, é fundamental o aprofundamento do estudo para que possamos compreender o motivo pelo qual aqui nos encontramos e, principalmente, para nortear o próprio comportamento tendo em vista galgar locais em condições mais amenas.

Diante do tema em epígrafe, quase que imediatamente, vem à mente escolher somente provas fáceis. Esta opção, aparentemente tão natural para espíritos ligados à um mundo como este, ocorreu, até mesmo, para Kardec, tanto que direcionou este questionamento aos espíritos. A resposta obtida, contudo, foi que “Pode parecer-vos a vós; ao espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”[2].

Na condição de encarnado, tendo como referência a matéria e os sentidos físicos, o espírito analisa sua existência segundo os parâmetros limitados que estão disponíveis para as faculdades cognitivas do ser. Haverá uma demanda de maior quantidade de trabalho e, portanto, de energia, para o espírito direcionar sua atenção para aquilo que esteja, por assim dizer, além do terra-a-terra.

Com a resposta dos espíritos apresentada à Kardec que foi transcrita anteriormente [2], podemos supor que, liberto da matéria, com mesmo nível de trabalho a que está acostumado, ou seja, usando a mesma quantidade de energia, poderá entrever além do seu próprio ser e, de certa forma, vislumbrar a eternidade. Nesta condição, os parâmetros de avaliação mudam completamente.

Contudo, resta uma grande questão: Porque necessitamos de provas?

Primeiramente, não podemos confundir prova com expiação. A expiação é a consequência do arrependimento das escolhas das provas.

O espírito em níveis evolutivos como os da Terra vislumbram, primeiramente, o benefício próprio, isto é, o egoísmo é uma característica muito marcante [3]. Assim, na erraticidade, diante do vislumbre da eternidade e dos benefícios, se predispõem ao trabalho. Porém, enquanto encarnado, acessando diretamente apenas as sensações físicas, envereda por caminhos diferentes daquele que programou, mesmo com os estímulos e condições condizentes com as provas escolhidas.

A desistência acarreta a repetição da prova e é nisso que consiste a expiação e, por isso, o sofrimento será tanto mais severo quanto o número de vezes que repete a mesma prova. Portanto, o sofrimento está relacionado com a desistência do enfrentamento daquilo que compete ao espírito cumprir.

Além da desistência em cumprir o programado, buscando experiências que lhe apraz, o espírito tende, pelo mesmo motivo, a considerar deveres, em geral, como causa de sofrimento. Assim, inclusive as tarefas diárias mais banais, tais como estudo e trabalho, ganham conotação de pesar, mesmo sendo estas atividades a causa de uma vida saudável, de sustentação da família, segurança, moradia e lazer, dentre outras.

Desta forma, os deveres comuns à todos para um encarnação proveitosa e saudável passam a ser causa de sofrimento e o espírito considera estas atividades, erroneamente, como expiação. Nesta relação com os deveres, o espírito causa a si mesmo muito desconforto.

Encontramos n’O Evangelho Segundo o Espiritismo orientações muito pertinentes para esta questão. Sob o título Causas Atuais das Aflições [4], temos que “O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios” e que “Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente”.

Muitas vezes nos preocupamos com vidas pregressas e, outras tantas, nos ocupamos com terapias inócuas e, até mesmo, prejudiciais. Todavia, o grande causador dos males é o próprio espírito durante a encarnação, seja por não fazer o que devia ou por fazer o que não devia. Esta informação é tão importante que faz parte de orientação contida na Codificação ao dizer: “O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria”[4].

Por último, podemos nos perguntar sobre a necessidade de um processo evolutivo, pois, sendo Deus, poderia criar espírito já evoluídos.

No entanto, a lógica nos diz que esta não seria uma opção viável, pois, sendo Deus, mesmo podendo tudo e qualquer coisa, é soberana justiça e bondade. Neste sentido, para ser justo e bom, seria necessário que todos os espíritos criados fossem completamente iguais, cópias fiéis um do outro, verdadeiros clones, na real concepção da palavra, com pensamentos iguais, gostos iguais e atitudes iguais. Se não fossem idênticos, certamente haveria os melhores e os piores, mesmo que a diferença fosse mínima, ainda assim, não haveria soberana justiça.

Por ser infinitamente justo, Deus realmente cria todos exatamente iguais, mas, na condição de simples e ignorantes para, através das provas, desenvolvermos aptidões e gostos diferentes e, enfim, tomarmos a nossa posição na grande oficina da criação.

Notas bibliográficas:
1. Allan Kardec; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III.
2. ___; O Livro dos Espíritos, Questão 266.
3. ___; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI.
4. Ibidem, Cap. V.


A vida de Chico Xavier

Informativo do Clube do Livro

Digite seu nome

Digite seu email

Invalid Input

Captcha
Invalid Input