Fonte: A era do espirito
O Espírito se lembra de sua existência corporal, isto é, tendo vivido muitas vezes como homem, ele se lembra do que foi, e às vezes até ri por sentir dó de si mesmo.
Nota de Allan Kardec: Assim como o homem que, atingindo a idade da razão, ri das loucuras de sua juventude ou das ingenuidades de sua infância.
A lembrança da existência corporal não se apresenta ao Espírito de maneira completa e de súbito, após o desencarne, ele a revê pouco a pouco, como algo que sai de um nevoeiro, e à medida que fixa sua atenção.
O Espírito se lembra das coisas em razão das conseqüências que tiveram sobre a sua situação de Espírito. Mas devemos compreender que há muitas circunstâncias da vida às quais o Espírito não dá a menor importância e que nem mesmo procura delas se lembrar. Ele pode lembrar, se quiser, dos detalhes e de incidentes mais minuciosos, seja dos acontecimentos, ou até mesmo de seus pensamentos; mas quando isso não tem utilidade, não o faz.
O Espírito certamente entrevê o objetivo da vida terrestre com relação à vida futura, a vê e a compreende bem melhor do que quando encarnado. Compreende a necessidade de depuração para chegar ao infinito e sabe que em cada existência se liberta de algumas impurezas.
A vida passada se retrata na memória do Espírito ou por um esforço de sua imaginação, ou como um quadro que tem diante dos olhos. Todos os atos de que deseja se lembrar são para ele como se fossem presentes; os outros estão mais ou menos vagos no seu pensamento, ou totalmente esquecidos. Quanto mais se desmaterializa, menos dá importância às coisas materiais. Podemos observar tal situação freqüentemente na evocação de um Espírito que acaba de deixar a Terra. Não se lembra do nome das pessoas que amava, nem dos detalhes que, para nós, parecem importantes; é que já não lhe interessam e caem-lhe no esquecimento. Do que se lembra muito bem é dos fatos principais que o ajudam a se melhorar.
Em relação a todas as existências que precederam a última que o Espírito que acabou de deixar, todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas percorridas por um viajante; mas, não se lembra de uma maneira absoluta de todos os atos, lembra-se dos fatos em razão da influência que têm sobre seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que podemos considerar como a infância do Espírito, perdem-se no tempo e desaparecem na noite do esquecimento.
O Espírito considera o corpo que acabou de deixar como uma veste que o apertava e sente-se feliz por estar livre dele. O sentimento experimenta quando vê seu corpo em decomposição quase sempre um sentimento de indiferença, como por uma coisa que não tem mais importância.
Após um certo tempo, o Espírito, algumas vezes, reconhece os ossos ou outros objetos que lhe tenham pertencido, mas isso depende do ponto de vista mais ou menos elevado de como considera as coisas terrenas.
O Espírito sempre fica feliz por ser lembrado. O respeito pelos objetos dele que se conservaram trazem-no à memória daqueles que deixou. Mas é o pensamento que o atrai até nós e não os objetos.
Muitas vezes os Espíritos conservam a lembrança dos sofrimentos que passaram durante sua última encarnação, e essa lembrança os faz avaliar melhor quanto vale a felicidade que podem alcançar como Espíritos.
O homem que foi feliz na Terra não lamenta os prazeres que perde quando a deixa. Somente os Espíritos inferiores lamentam os prazeres perdidos relacionados com a impureza do seu caráter e que expiam por seus sofrimentos. Para os Espíritos elevados a felicidade eterna é mil vezes preferível aos prazeres passageiros da Terra.
Nota de Allan Kardec: Assim como o homem adulto, que nenhuma importância dá àquilo que fez as delícias de sua infância.
Aquele que começou grandes trabalhos com um objetivo útil e os vê interrompidos pela morte não lamenta, no outro mundo, por tê-los deixado inacabados, porque vê que outros estão destinados a terminá-los. Então se empenha em influenciar outros Espíritos encarnados para continuá-los. Se o seu objetivo na Terra era o bem da humanidade, continuará o mesmo no mundo dos Espíritos.
De acordo com sua elevação, aquele que abandonou trabalhos de arte ou de literatura conserva por suas obras o amor que lhes tinha quando era vivo, mas geralmente, o Espírito, julga-os sob um outro ponto de vista e, freqüentemente, se arrepende de coisas que admirava antes.
Dependendo da elevação ou da missão que deve desempenhar o Espírito, se interessa pelos trabalhos que se executam na Terra pelo progresso das artes e das ciências. O que nos parece magnífico é, muitas vezes, pouca coisa para certos Espíritos, que a consideram como um sábio vê a obra de um estudante. Eles têm consideração pelo que pode contribuir para a elevação dos Espíritos encarnados e seus progressos.
Para os Espíritos elevados, a pátria é o universo; na Terra, a pátria está onde há mais pessoas que lhes inspirem simpatia.
Nota de Allan Kardec: A situação dos Espíritos e sua maneira de ver as coisas variam infinitamente em razão do grau de seu desenvolvimento moral e intelectual. Os Espíritos de uma ordem elevada geralmente fazem na Terra jornadas de curta duração. Tudo o que se faz na Terra é tão mesquinho em comparação às grandezas do infinito, as coisas que os homens mais dão importância são tão infantis a seus olhos, que eles aí encontram poucos atrativos, a menos que seja em missão com o objetivo de concorrer para o progresso da humanidade.
Os Espíritos de uma ordem mediana se encontram entre nós mais freqüentemente; porém, já consideram as coisas sob um ponto de vista mais elevado do que quando encarnados.
Os Espíritos vulgares são a maioria e constituem a massa da população ambiente do mundo invisível do globo terrestre.
Conservaram, com pouca diferença, as mesmas idéias, gostos e tendências que possuíam quando encarnados. Eles se intrometem nas nossas reuniões, nos negócios e nas ocupações e nelas tomam parte mais ou menos ativa, de acordo com seu caráter.
Não podendo satisfazer às suas paixões, estimulam e se deliciam com os que a elas se entregam. Entre eles, há alguns mais sérios, que vêem e observam para se instruir e se aperfeiçoar.
As idéias dos Espíritos desencarnados se modificam muito quando estão na erraticidade. Sofrem grandes modificações à medida que o Espírito se desmaterializa. Ele pode algumas vezes permanecer por muito tempo com as mesmas idéias, mas pouco a pouco a influência da matéria diminui e vê as coisas com mais clareza. É então que procura os meios de se aperfeiçoar.
Uma vez que o Espírito já viveu a vida espírita em vidas anteriores, o seu espanto ao reentrar no mundo dos Espíritos é apenas o efeito do primeiro momento e da perturbação que se segue ao seu despertar. Mais tarde reconhece perfeitamente o seu estado, à medida que a lembrança do passado lhe vem e que se apaga a impressão da vida terrestre.