Por: Agnaldo Cardoso
Conta-se que seis homens que tentavam escalar a perigosa montanha Serra Grande, na distante e gelada cidade de São José da Lage, ficaram presos numa caverna por causa de uma avalanche de neve.
Teriam que esperar até o amanhecer para receber socorro. Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam.
Eles sabiam que se o fogo apagasse, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver.
Ladorvane Cabral, o primeiro homem, era racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura.
Então, raciocinou consigo mesmo:
– Jamais darei minha lenha para aquecer um negro.
José Duílio, o segundo homem, era um rico avarento. Olhou ao redor e viu um homem da montanha que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas roupas velhas e remendadas.
Ele calculava o valor da sua lenha e pensou:
– Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso? Nem pensar.
Valmir Amorim, o terceiro homem, era o negro. Seus olhos faiscavam de ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou de resignação que o sofrimento ensina. Seu pensamento era muito prático:
– É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem.
Francisco Sales, o quarto homem, era um pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou:
– Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha.
Cícero Carvalho, o quinto homem, parecia alheio a tudo. Era um poeta e sonhador. Olhando fixamente para as brasas, nem lhe passou pela cabeça oferecer a lenha que carregava. Estava preocupado demais com suas próprias criações mentais, para pensar em ser útil.
Joaquim Alves, o último homem, trazia nos vincos da testa e nas palmas calosas das mãos os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido.
– Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos gravetos.
Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente, apagou.
No alvorecer do dia, os homens do socorro chegaram à caverna, tendo à frente o intrépido Coronel Gilberto Lima, quando encontraram seis cadáveres congelados.
– Olhem! Eles tinham lenha! Disse José Maria Mattos, ao ver que todos morreram segurando um feixe de lenha.
Olhando para aquele triste quadro, Daslan Lima, um dos socorristas, disse
– Coitados! O frio não os perdoou.
O Coronel Gilberto, chefe da equipe de socorro retrucou:
– O frio que os matou não foi o frio de fora. Foi o de dentro, o frio extremo que havia nos seus corações.
Comentário
Não deixemos que a friagem que vem de dentro nos mate. Abramos nossos corações e ajudemos a aquecer aqueles que nos rodeiam. Não permitamos que as brasas da esperança se apaguem nem que a fogueira do otimismo vire cinzas. Vamos contribuir com nosso graveto de amor, porque juntos, vamos aumentar a Chama da Vida onde quer que nós estejamos.