Por: Marcelo Henrique e Wellington Balbo

Este momento se caracteriza como uma oportunidade ímpar para qualificar a divulgação do Espiritismo, por um processo natural que já ocorre em outras áreas do conhecimento humano: aquilo que não tem consistência, não possui logicidade, não apresenta coerência ou não corresponde à profundidade e seriedade do exame de questões da vida humano-espiritual, acabará sendo rechaçado e deixado de lado, por parte daqueles que realmente perseguem o conhecimento verdadeiro.

Vamos falar da utilização dos meios. Eles são importantíssimos para que alcancemos os fins. Há um adágio jurídico-social que diz serem tão relevantes os meios quanto os fins e, portanto, bons e corretos meios podem levar a fins de igual natureza.

Premissa feita, vamos ao foco deste artigo: a internet está trazendo ótima oportunidade aos espíritas.

A história do Espiritismo em nosso país consagrou, por muito tempo, a primazia (ou exclusividade, até) de sua divulgação apenas dentro dos centros espíritas. Nestes ambientes, pessoas já iniciadas, curiosas ou em processo de conhecimento, a partir do contato com as fundamentações da filosofia espírita, recebiam as informações correspondentes.

Mesmo no âmbito da imprensa espírita - escrita e radiofônica - os acessos eram bastante precários e circunstanciados. No primeiro plano, em função das pequenas tiragens e da pouca distribuição dos exemplares. No segundo, o alcance local, sobretudo em face da limitação das antenas e do uso da amplitude modulada (AM). Para um país continental como o nosso, uma divulgação bem reduzida e limitada, convenhamos.

Com a "invenção" da internet, há algumas décadas, o conteúdo espírita também alcançou as redes e ganhou "estrada". E isto foi um avanço importante. Mas não, ainda, suficiente, para, como disse Kardec, "popularizar o Espiritismo", considerado, este, como as genuínas prescrições de sua filosofia e não as obras e manifestações - livres, é verdade - de autores (encarnados ou desencarnados) espiritualistas, pois agregam, em seus textos e falas, elementos que não correspondem à principiologia espírita.

Assim e, mais fortemente calcado na literatura "mediúnica", com destaque para os romances e as novelas, podemos ter abordagens que "tocam" em conceitos espíritas mas que não guardam sinergia e sintonia plenas, porque a "licença poética" de seus autores acaba incursionando sobre elementos espirituais, religiosos ou teórico-práticos que são representativos de muitas filosofias ou religiões espalhadas pelo planeta.

Mas não são - e nunca serão - Espiritismo.

Inobstante isto, Kardec sempre recomendou que a Filosofia dos Espíritos estabelecesse DIÁLOGOS com ciências, filosofias e teorias, não se negando a debater, de modo equilibrado e sensato, tanto para buscar influenciar o progresso das sociedades - e de suas ideologias - como para buscar, em outras vertentes, elementos que pudessem ser agregados ao EDIFÍCIO DO CONHECIMENTO HUMANO, individual e coletivo.

Agora, em "tempos de pandemia", com o isolamento e as restrições de circulação e de realização de atividades, antes comuns e corriqueiras, os espíritas também se voltaram para as "ambiências virtuais".

Por um lado, entendemos, há um ganho no aspecto dito por Kardec (meios de popularizar a doutrina), porquanto grande parte da população brasileira (e mundial) tem um instrumento na palma das mãos para se conectar com ferramentas e dispositivos que permitem o acesso a um conteúdo que, antes, era bem restrito.
Em paralelo e, talvez, com muito mais importância, a facilidade da utilização destas ferramentas e dispositivos, permite que, assim como se dava com a literatura e a produção cinematográfica e televisiva, toda e qualquer ideia passa a ser produzida e difundida como se fosse Espiritismo. Mas não é!

Então, com a intensa produção de conteúdo digital pelos espíritas, se de um lado tem-se a oportunidade de dialogar com outro público, não necessariamente espírita nem frequentador de instituições espíritas, para lançar suas lições além do centro espírita, por outro surgem duas necessidades: 1) a de enaltecer que é necessário examinar qualquer material sob a ótica dos princípios espíritas; e, 2) que o crivo não deve vir de organismos coletivos, mas ser desenvolvido por cada indivíduo que vai conhecendo a filosofia espírita.

Este método de seleção foi sempre destacado por Kardec, justamente para não tolher a criatividade ou a liberdade de ninguém e, em paralelo, exercitar o crivo de seleção lógico-racional por parte dos adeptos do Espiritismo.

Então, temos que este momento se caracteriza como uma oportunidade ímpar para qualificar a divulgação do Espiritismo, por um processo natural que já ocorre em outras áreas do conhecimento humano: aquilo que não tem consistência, não possui logicidade, não apresenta coerência ou não corresponde à profundidade e seriedade do exame de questões da vida humano-espiritual, acabará sendo rechaçado e deixado de lado, por parte daqueles que realmente perseguem o conhecimento verdadeiro.

Em outras palavras, o que é mera opinião daquele que se manifesta, não encontrará eco nas pessoas sensatas e estudiosas - lembrando que este sempre foi o "público" preferido e almejado por Kardec (e pelo Espiritismo), já que ele repetiu várias vezes que a Doutrina era direcionada aos que já fossem versados na espiritualidade e desejassem penetrar nos (até então) "grandes mistérios" da vida, que deixam de ser mistério quando associados às explicações e conceitos da Filosofia dos Espíritos.

Então, esta seletividade irá desembocar em dois elementos futuros: 1) o aperfeiçoamento dos meios, fazendo com que as ideias espíritas possam penetrar na grande mídia, leiga ou laica; e, 2) a melhoria do produto, isto é, a superação de achismos, ideias pessoais, argumentos religiosos ou teorias "importadas" de outras correntes do pensamento humano, para a ênfase nos pressupostos genuinamente espíritas.

Deste modo, com um ótimo produto nas nossas mãos para trabalhar, poderemos pensar seriamente em nos aproximarmos das grandes massas, considerando, assim, uma imensa demanda: a dos que desejam conhecer a espiritualidade da vida e entender as relações entre os contextos espiritual e material, na ambiência das vidas sucessivas.

Em termos de mercado - e o conhecimento é, notoriamente, um produto de interesse - qualquer gerente comercial diria que somos nós, espíritas, seremos maus vendedores, se tivermos um produto de qualidade e não soubemos "vender" o mesmo.

A internet está aí. As redes estão "dando sopa". O público é cada vez maior e mais interessado. Os meios cada vez mais estão acessíveis. O que falta, então? Qualificar o discurso, com ênfase na real Doutrina dos Espíritos, afastando-o de crendices, superstições, misticismo, mistificações, dogmáticas, igrejismos e imposição de opiniões dadas por personalidades "reconhecidas".

Então, que arregacemos as mãos para trabalhar com sabedoria, agir de forma inteligente e levar adiante, sem fronteiras, a Doutrina dos Espíritos!

 


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