Por: Richard Simonetti

Joseana estava gravemente enferma, pro­blema nos rins. Os médicos davam-lhe poucos meses. Espírita convicta, participava ativamente de um Centro Espírita, dedicando-se particularmente aos trabalhos de evangelização infan­til. Adorava crianças.

A doença impusera-lhe o afastamento da ta­refa. Sentia-se deprimida, desanimada, quase aceitando o fato de que, em breve, partiria para o Além, não obstante sua ânsia por viver. Afinal, tinha três filhos para criar e um abençoado compromisso de orientação à alma infantil.

Então, começaram os sonhos. Via-se em hospitais onde a submetiam a cuidadoso tratamen­to, com a utilização de aparelhagem desconhecida, que funcionava, aparentemente, em bases de mag­netismo. Eram lembranças fragmentárias. Pouco registrava. Um detalhe, porém, fixou-se em sua memória: diziam-lhe que seria curada por seu filho Mauro.

Os resultados não demoraram. Joseana animou-se com aqueles sonhos. A fraqueza diminuiu sensivel­mente. Voltou o apetite, favorecendo nova disposi­ção. Retomou a tarefa no Centro. Em alguns meses, recuperou-se totalmente.

Ficaram apenas as recordações de uma ex­periência difícil e da curiosa revelação onírica: o filho fora o agente da recuperação. Por quê? Mauro não era nenhum médico ou taumaturgo. Apenas um filho muito que­rido de seis anos, assim como Júnior, da mesma idade, e Magali, de cinco. Os meninos não eram gêmeos, nem chegavam a ter a mesma idade. Havia uma diferença de três meses entre ambos, prodígio facilmente explicável: Mauro fora adotado. Criança abandonada, viera ter em seu lar quando Joseana estava no sexto mês de uma gestação complicada, marca­da por dores e constantes ameaças de aborto. Não obstante, tomara-se de amores pelo bebê. O mari­do, homem generoso e sensível, também se emo­cionou com o enjeitadinho. Assim, em poucos me­ses, o lar fora enriquecido com dois garotões.

Desejando definir o que tinha Mauro a ver com sua cura, Joseana aproveitou o ensejo de uma conversa com Juvêncio, mentor espiritual do gru­po de trabalhos mediúnicos que frequentava, e perguntou-lhe a respeito do assunto. Ele a ouviu atentamente e respondeu, carinho­so:

– Realmente, minha filha, foi graças ao me­nino que você curou-se. Fazia parte de suas provações um retorno mais cedo à Espiritualidade, com a frustração de seus sonhos e ideais relacionados com a jornada terrestre. Ocorre que, ao acolhê-lo com carinho, embora enfrentando gravidez difícil, nossa irmã "queimou" parte de seu carma, beneficiando-se com a dilação de algumas décadas no seu progra­ma reencarnatório. Terá, portanto, a ventura de ver seus filhos criados e encaminhados na Vida, além de muito serviço pela frente, no abençoado ideal da evangelização infantil. Ante a emoção da jovem senhora, que cho­rava discretamente, Juvêncio concluiu, sorrindo:

– Rejubile-se! Muita gente retorna ao Pla­no Espiritual antes do tempo, após comprometer irremediavelmente a vestimenta carnal com indisci­plinas mentais e intemperanças físicas. Você é dessas raras criaturas cuja permanência na Terra situa-se por investimento promissor de Deus.

Então, Joseana compreendeu que, amparan­do uma criança, na verdade ajudara a si mesma.

As experiências cármicas não obedecem a cego determinismo, nem é o sofrimento o único re­curso de resgate de nossas dívidas do pretérito. Podemos melhorar consideravelmente nos­sas chances de felicidade no Mundo, amenizando os rigores da Lei de Causa e Efeito com o exercício do Bem, até mesmo em favor de uma existência mais longa e produtiva.

Isso não é novidade. Simão Pedro, interpre­tando o pensamento de Jesus, proclama, na sua primeira epístola à comunidade cristã, que o Amor cobre uma multidão dos pecados.