Como conheceu o espiritismo?
Quando completei seis anos de idade, meu mentor surgiu-me de forma iluminada e generosa e me disse que eu teria nesta encarnação a tarefa de falar para muitas pessoas sobre as propostas do bem. Desde então comecei a me preparar. O espiritismo surgiu-me como algo absolutamente natural. Ao ler seus postulados era como se eu já os conhecesse. Minha mediunidade ostensiva foi e está sendo o meu grande condutor dentro dos estudos e práticas espíritas.
Frequenta ou trabalha em instituições espíritas? Como se chamam?
Quando iniciei minhas atividades no movimento espírita filiei-me a uma Instituição aqui de Juiz de Fora onde permaneci por vinte anos. Depois com o acúmulo das viagens para apresentações teatrais (sou autor e diretor de teatro) e palestras não me foi mais possível ficar em apenas uma Instituição. Hoje trabalho no movimento espírita em geral, atendendo convites para palestras, seminários ou encontros diversos.
Qual a importância do espiritismo em sua vida?
Posso dizer que o espiritismo é minha filosofia de vida, é minha forma de viver. Por ele conheci Jesus, este o seu grande legado em minha vida. Estudá-lo e divulgá-lo tem sido minha proposta desde 1978 quando iniciei minhas atividades no espiritismo.
Você é médium? Como a mediunidade auxilia nos seus livros e como ela auxilia em seu cotidiano?
Como disse anteriormente minha mediunidade eclodiu quando eu tinha seis anos de idade. Ao longo de todo esse tempo, hoje tenho 64 anos, a mediunidade acompanhou-me. Por ela escrevi mais de 200 peças teatrais, todas montadas e apresentadas, inúmeros artigos e ensaios e vinte e três obras literárias. Através da mediunidade aprendo grandes e profundas lições com mestres da espiritualidade. E isto de forma cotidiana.
Possui outros livros publicados, além deste lançado pela Editora EME?
Tenho mais 8 livros publicados sendo que seis deles pela Mythos Editora, um pela Editora Correio Fraterno e um pela Minas Editora. Três outros livros saíram em capítulos na revista Espiritismo & Ciência.
Qual a principal motivação para escrever Os bosques?
Trabalhei durante mais de trinta anos com o teatro educativo. Um trabalho profissional e por ele visitamos e atendemos a mais de 400 instituições (indústrias – comércio – prestadoras de serviços – entidades públicas – ONG’s e instituições espíritas) Nosso trabalho era realizado por atores ainda adolescentes, profissionalizados e com grande empenho na proposta de educar pela arte, pela dramaturgia. Foi no convívio com eles que a espiritualidade sugeriu que fizéssemos uma obra literária direcionada aos pais e filhos adolescentes. O livro começou a ser psicografado ao lado deles, hoje adultos e muitos seguindo a dramaturgia profissionalmente. A maior motivação foi a de falar para eles quem somos, de onde viemos e o que podemos fazer dentro deste concerto magnífico que é a vida.
Alguém o incentivou a desenvolver este trabalho?
Dois mentores em especial: Kandy e Rethnan. Depois a Joanna Tell, espírito, com quem tenho feito muitos trabalhos, assumiu a tarefa e ditou-me a obra.
Quanto tempo levou para concluir a obra?
Se falarmos da história de Mateus e Sara, levamos pouco mais de um mês. Contudo os poemas já estavam prontos desde quinze anos atrás. Foi gratificante encaixá-los no texto, um trabalho que me encantou, pois que os separei em blocos “aleatoriamente” e eles foram colocados na trama, como que por magia, sem que eu os selecionasse.
Teve alguma surpresa ou dificuldade para realizar o livro? Quais?
As surpresas foram os encontros dos personagens dentro dos bosques. Viajei com eles, como o leitor certamente faz. Eu não sabia o que aconteceria no próximo momento, capítulo ou diálogos. Não tive nenhuma dificuldade, Joanna Tell já trabalha conosco faz um tempo e segui as orientações que ela me passava.
O que deseja transmitir aos leitores com esta obra?
Fé em si mesmos. Crescimentos espirituais necessários. Respeito à vida. Olhar mais profundo para o que acontece em seu entorno. Deus e Família como pilares que nos sustentam em nossas peripécias próprias da evolução de seres que faz pouco tempo sairam da irracionalidade.
Os bosques é como um passeio pelo mundo interno de cada um dos seres humanos na fase da adolescência. Qual a contribuição da doutrina espírita para a chamada “crise da adolescência”?
Hoje os estudiosos da adolescência já não mais classificam este período da vida como algo obscuro e difícil. Ao contrário eles nos afirmam que para o adolescente o momento é absolutamente normal. Os pais é que costumam “surtar” por verem que seus filhos já não são mais crianças as quais guiavam a seus gostos. O adolescente é aquele ser renascido e que, de repente, busca-se como indivíduo e isto deve ser respeitado. A doutrina espírita nos diz que somos seres reencarnados e em evolução. Não se torna adulto aos doze anos. Há uma fase de transformações físicas e psicológicas, isto é a adolescência. Então a doutrina espírita nos esclarece e nos conduz tanto os pais como educadores e adolescentes.
E o que o espiritismo tem para oferecer como subsídio para a formulação de uma opinião segura e a tomada de uma decisão correta quando o jovem chega ao limiar da idade adulta?
Se observarmos bem, os adolescentes necessitam muito dos pais e educadores que estão ao seu derredor. Tudo lhes é novo e atraente. Naquela fase a emoção eclode, a dopamina entra em ação e os risos e aventuras tornam-se normais nas vidas dos adolescentes. Não se deve cerceá-los desses impulsos naturais, imputá-los culpas e responsabilidades em exageros. O importante é, a partir dos seus excessos, explicar-lhes a forma correta de viver e se comportar. O espiritismo como representante legal do cristianismo redivivo, contribuirá eficazmente mostrando aos adolescentes que existem leis humanas e leis divinas e a elas estamos todos submetidos e seremos responsabilizados por todos os atos que cometermos na razão direta do nosso crescimento ético, intelectual e moral já realizado. O espiritismo assim promoverá o encontro do indivíduo com a sua realidade espiritual e social.
O jovem espírita se sente mais responsável diante das transformações do mundo?
Nem sempre. O jovem espírita, via de regra, ainda é o espírito antigo e com propostas antigas. A conscientização que nos transforma necessita tempo para se fixar em nós. O que as escolas de evangelização da criança e do jovem necessitam realizar é mostrar-lhes os caminhos e os abismos existentes no mundo. Se aqui renascemos é porque aqui necessitamos estar. Estar bem e em paz com as leis naturais, com a família que nos acolheu, com a sociedade que nos admitiu, é, sem dúvida, um dever de todos nós. Aí devem se basear as falas e ensinamentos de pais e educadores, desde que eles estejam seriamente comprometidos com o processo, e uma forma sensata do adolescente ver-se como um ser inserido em novo contexto reencarnatório. A doutrina espírita, educadora por excelência, será o grande norteador desses moços e moças, mas, antes de tudo, eles precisam entender e aceitar esta bússola. Caso contrário poderão viver experiências não tão gratificantes assim. O livro Os bosques, em seu capítulo: “Vale das Máscaras”, mostra as leis que regulam os abismos. Então, como Paulo de Tarso repetimos: “Tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém”.
Considerando as dificuldades econômico-financeiras, o desemprego, como orientar o jovem espírita para a vida (lazer, sexo, família), sem o risco da desesperança que parece contagiar a juventude (inclusive com incidência de suicídio entre os jovens)?
Penso que o jovem espírita está carente de verdadeiros ídolos. Os pais são seus primeiros educadores, a escola e a sociedade como um todo complementam o processo. Porém, onde estão as verdadeiras lições, os sãos comportamentos, as atitudes virtuosas que os incitam a buscar uma forma razoável de viver. A desesperança surge como uma resposta natural daquele que se vê entre corruptos e corruptores, idólatras do sexo sem compromisso, amantes do álcool e do tabaco, falantes da linguagem fantasiosa e chula distanciada dos arredores de uma consciência ligada ao bom e ao realmente útil e ainda filosofias vãs onde o dinheiro e o poder representam o lugar mais alto do pódio. O espírito reencarnado ainda é um neófito em meio a tudo isso e, sem exemplos eficazes e sensatos de comportamentos, fica-lhe muito difícil manter-se e flutuar como uma bandeira desfraldada indicando posturas leais à Constituição Divina. O desemprego de agora pode ser a porta para as alternativas do trabalho individual que faz o progresso de cada um pela excelência que se deve buscar ao realizá-lo e não apenas cumprir regiamente um tempo dentro de uma empresa. Vivemos num regime de impermanências e não só os jovens, como também os adultos devem estar preparados para o próximo episódio desta fantástica jornada que é a evolução espiritual. “Desistir? Nunca. Arrefecer-se? Jamais”. O altruísmo faz parte daqueles que se agigantam e vencem seus adversários “...enquanto estão a caminho com eles” Certificou-nos o Mestre Jesus.
Apesar de ser voltado aos jovens, Os bosques agradará também aos adultos? Por quê?
Os adultos que leram Os bosques chamaram seus adolescentes para fazerem o mesmo. A viagem que o livro nos promove é atemporal. Está na realidade intrínseca de todos. Conhecer arquétipos, deparar-se com ídolos e mitos, decifrar símbolos, pernoitar no vale das sombras e acordar diante dos pilares redentores são propostas de Deus a todos os Seus filhos. Se, já numa leitura preliminar, os adultos se encantam é porque neles a certeza nas conquistas superiores da alma já se aclimata em suas vivências. E eles desejam aclimatá-las igualmente naqueles meninos e meninas, de faces belíssimas moldadas pelo Divino Escultor. Os adultos entendem que se o jovem se buscar e se preservar, o tempo não enrugará a beleza que trazem e que pode permanecer.
E que mensagem você deixa aos nossos leitores?
“Ler é a tecnologia da mente para operar mudanças”, diz-nos Steven Pinker, canadense e professor no departamento de Psicologia da Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Ler um bom livro, um bom artigo, um bom ensaio é capacitar-se para a real soberania nas suas pontuações. Necessitamos acostumar nossas mentes com boas propostas e um belo exercício para tal é ler algo realmente comprometido com a formação ética e moral dos indivíduos. Ler para operar mudanças, eis uma bela opção de lazer, de estudos, de vida.
FONTE: http://www.editoraeme.com.br/entrevistas/194-entrevista-com-guaraci-de-lima-silveira.html